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Vamos às compras!

Foto do escritor: Gustavo Tamagno MartinsGustavo Tamagno Martins

ILUSTRAÇÃO: Freepik

“Mano, estou amando as aulas de Economia”. Li, respirei fundo e pensei ter perdido a minha parceria na área de Humanas. Mas pensei melhor. Os cálculos econômicos fazem todo o sentido na nossa vida, muito mais do que as trocentas fórmulas que tivemos que decorar na escola e mal usamos para tentar gabaritar nas provas. Sou a favor à existência de disciplinas de educação financeira nas escolas. Deveriam preocupar-se tanto com a preparação para a vida dos estudantes quanto para as questões do Enem. E isso nem é culpa dos professores, eles já fazem bem mais do que a sua obrigação.


A manhã seguinte à conversa era mais uma, comum como todas as que a precederam. Até que aquela corrida de aplicativo se transformou em um papo sobre economia e mercado. Pelo caminho, um painel de publicidade em cima de um caminhão, anunciando as promoções e a chegada de mais um atacado na cidade. Questionei se a abertura de tantos estabelecimentos do gênero afetaria negativamente os demais. “Que nada! Todo supermercado que for, está sempre cheio”. Aliás, nos primeiros dias, logo que inauguram, é praticamente impossível entrar sem encontrar filas e aglomerações. “Mas tu viu o mercado novo que abriu?”. “Preciso ir lá conhecer!”. Se torna ponto turístico.


Seu Silvio foi além. Contou que existem muitas famílias que ainda fazem o antigo ritual de, logo nos primeiros dias do salário cair na conta, irem fazer o rancho. “É um evento, vai a família toda, me enchem o porta-malas e ainda vem compras dentro do carro”, confidenciou o motorista. Em conversa com meu pai, ele puxou do baú de lembranças da sua infância para comprovar: o rancho era mesmo um acontecimento esperado durante todo o mês. Ele e seus irmãos chegavam a esperar meu avô na saída do trabalho para irem direto fazer as compras. Retornavam para casa com a kombi do mercado, com gente até dentro das caixas e com a felicidade das novas aquisições. Só que a gurizada se empolgava com o pote de chimia nos primeiros dias, por exemplo, e precisava comer pão puro e chupar o dedo o restante do mês.


Além de me indicar alguns açougues, o motorista do Uber também me ensinou uma lição de economia que quis dividir com vocês, leitores. “Sabe como medir se o mercado é caro? Veja o preço do azeite. Se estiver com um preço acima dos demais estabelecimentos, a grande maioria dos outros produtos também são mais caros”. Por um lado, é até bom que tenham vários mercados e atacados pela cidade. Minha mãe que o diga. Assim pode ir em vários para fazer suas “pesquisas de preços e marcas”. O problema é que a satisfação e o prazer que dá na gente ao fazer umas comprinhas, mesmo que online e de itens que nem precisamos, gera um consumismo desenfreado e muitos cidadãos inadimplentes. Inclusive, o cronista não deixou de fazer a sua pesquisa de campo e foi in loco conhecer o novo atacado. É a nova atração e divertimento do povo. No final, tudo acaba em compras. Aliás, me deem licença, vou me despedindo por aqui que preciso ir ver o que vou comprar agora. Obs: Black Friday vem aí!

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