Vamos abrir as janelas
- Gustavo Tamagno Martins
- 6 de fev.
- 2 min de leitura

Um tempo atrás, eu estava respondendo um questionário para uma estudante que iria produzir um texto entrelaçando a minha vida pessoal com a literária. Lá pelas tantas, apareceu a temida pergunta: “como driblar o bloqueio criativo?”. O terror de alguns escritores. Ele ronda quem precisa usar da criatividade e por vezes também aparece por aqui, não tenham dúvidas. Refleti um pouco e respondi. Quando percebo que estou sem assunto ou que o texto não está rendendo, “tiro os olhos do texto” e vou fazer outras atividades. Em uma linguagem mais poética, quando me pego assim, procuro “abrir as janelas da alma” e me inspirar com tudo o que consigo apreciar. Por isso, uma das estratégias é estar sempre consumindo arte, seja livros, filmes, séries, músicas, e até mesmo olhando para o lado e conferindo tudo o que me rodeia. Tudo pode virar texto e ser inspiração para a escrita, por isso, fico com meu olhar bem atento para captar esses momentos.
Infelizmente, a correria enlouquecedora do cotidiano nos atropela e nos torna seres cada vez mais robóticos. É raro olharmos para o lado. E se olhamos é com um olhar bem distraído, que já não percebe mais tão claramente as miudezas. E assim perdemos as preciosidades da vida. Sinto que estamos todos exaustos e distraídos. Exaustos de quê? Distraídos com o quê? Nem nós sabemos ao certo, na verdade.
De uma coisa eu sei. Precisamos abrir mais as janelas da alma e apreciar a paisagem. Curtir a vista e as belíssimas obras feitas pelo Criador. Talvez estejamos exaustos de vivermos trancafiados a paredes que nos limitam. Talvez estejamos distraídos com o que não merece a nossa atenção, com tanta futilidade alheia que rouba o nosso tempo e a nossa energia. O grande Mario Quintana ensinou, certa vez, que o que mata um jardim não é o abandono. “O que mata um jardim é esse olhar de quem por ele passa indiferente… E assim é a vida, você mata os sonhos que finge não ver”.
Eis aqui um texto-convite para abrirmos mais as janelas e olharmos para fora. Ao nos atentarmos às singelezas que a vida nos reserva todos os dias, ela ganha mais cor, mais intensidade e mais propósito. É um exercício diário de encontrar a grandeza no minúsculo, perceber a beleza até no que parece sem importância. Outra grande lição nos deixou a fantástica Marina Colasanti, que partiu há poucos dias. Ela afirmava não ser uma pessoa do grandioso. Completava: “eu encontro o grandioso no pequeno. Sei que a mínima formiga tem tanta vida quanto as constelações. A vida, para mim, é um dom supremo”. Abrir as janelas da alma nos permite pegar vento no rosto, respirar fundo, recarregar com novos ares e nos reconectar ao que nos faz bem. Sobre as grandes coisas do mundo eu não sei nada, mas sobre as pequenas eu sei menos, né, Manoel de Barros?
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