Esses dias eu olhei para a minha avó e disse: sabe qual é o meu sonho? Ser velha, eu quero chegar na idade que a senhora tem. Ela soltou uma gargalhada e logo seguiu falando: “ser velha não é tão bom, a gente já não presta pra nada”. Respondi que ela já havia feito tanto e que agora chegou o seu momento de descanso e de paz. Minha avó semeou o amor em meu coração e, hoje, ela colhe o que plantou. Os papéis se inverteram, quem recebeu cuidado, agora, cuida.
Eu vejo nela, a poesia plena do envelhecer. As marcas do tempo resistentes na face, as mãos que já foram calejadas, mesmo enrugadas são macias e ostentam nas unhas um arco-íris. Dizem que a idade não vem sozinha, concordo, junto dela chega a sabedoria. O velho traz sensibilidade no olhar. Pelo caminho que estamos trilhando, os nossos avós já passaram, caíram e levantaram, por isso escutá-los é sempre uma aula, como se estivéssemos ao lado de uma biblioteca ambulante.
Todos os dias eu digo a minha avó que ela é o ser mais lindo desse planeta, se transforma em riso quando escuta os elogios. Há momentos em que ela fica com o olhar parado mirando o horizonte, pergunto no que está pensando, mas sempre conta alguma piada e solta gargalhadas como se estivesse recebendo cócegas. A forma que enxergo ela hoje, é diferente. Não vejo um corpo envelhecido no auge dos seus 91 anos de idade, mas sim uma alma de criança, de menina inquieta e alegre que se diverte com os detalhes da vida.
Voltei a falar sobre o meu sonho, então, ela disse: “um dia tu vai ficar velha, todos ficam.” Refleti sobre isso, porque na verdade não é todo mundo que consegue chegar nesta fase. Por isso, eu acredito que envelhecer é uma dádiva, uma fonte na qual poucos conseguem beber.
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