Estava caminhando quando me deparei com um morador de rua deitado na calçada, dormia como se estivesse em um colchão macio, dentro de um quarto arejado. Seu corpo ocupava todo o espaço fazendo com que os pedestres tivessem que desviar dele. Ao seu redor, seis litros vazios, uma sacola e algumas moscas. O sol beijava a face do homem que, nem mesmo com todo o calor escaldante, despertava.
No semblante ostentava rugas, cabelos brancos, usava roupa rasgada e suja, entretanto, parecia estar viajando dentro de um sono tão profundo aparentando estar pleno de paz. Em minha direção vinha um outro homem, que ao ter que desviar daquele que estava tirando uma soneca, apresentou-se carrancudo. Não sei que horas ele acordou, talvez não tivesse pressa, nem emprego, tampouco contas desesperadas batendo em sua porta.
Não julgo o fato de estar dormindo na calçada, mas fico imaginando o que leva diversas pessoas a se sentirem tocadas pela alma das ruas fazendo delas o seu lar. Penso que devem ter um balaio de histórias para contar e que também já presenciaram tantos acontecimentos, alegrias e tristezas. Naquele dia, o homem só queria dormir e nada mais, nem mesmo o piso bruto da calçada o fez acordar cedo, afinal de contas é necessário descansar para renovar as energias.
Muitos encontram dificuldades ao desembrulhar o presente da existência, por isso é importante se colocar no lugar do outro. Não cabe a nós fazermos julgamentos. É muito fácil apontar o dedo e falar, o difícil é estender a mão, não me refiro à ajuda financeira, mas sim ao ser humano.
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