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Poesia e Reflexão - 18/09/2023: “Meu Amor!”

Foto do escritor: Romila AmaralRomila Amaral

De mãos dadas o amor atravessou a rua e fez morada na esquina. A “casa” não tinha teto, paredes baixas feitas com papelão, sem divisórias, apenas uma abertura, certamente a porta do lar visível aos olhos de todos. Roupas, mochilas, alguns alimentos, um colchão, cobertas, uns três ursos de pelúcia e a voz que contente repetia “meu amor!”.


O casal parecia feliz, como se estivessem somente os dois em um momento íntimo de trocas de carinho dentro de “casa”. Conversavam e riam. Ela, abraçada em um urso, ele, organizando o ambiente. Os meus olhos curiosos nem pediram licença e invadiram o espaço, que era tão pequeno, mas cheio de afeto. Fiquei observando os dois, que não estampavam dificuldades na face. Talvez foi escolha deles viver assim, talvez a vida não abriu portas com oportunidades, sei lá, o fato é que não estavam incomodados com as condições do lar ambulante, nem das roupas, tampouco da situação, visível mesmo era a presença do companheirismo entre os dois.


Naquela madrugada choveu, no outro dia eles não estavam mais na esquina. Certamente o amor levantou acampamento, atravessou a rua e foi fazer morada em outro lugar. Esqueci de mencionar que atrás da “casa” tinha um “automóvel” de ferro, com duas rodas sofridas cansadas de andar pelas ruas da cidade.


É difícil, mas muita gente sobrevive com praticamente nada, o bom é que sempre aparece uma alma caridosa pronta para ajudar. Assim vão vivendo, aos trancos e barrancos, buscando em cada canto um lugar para descansar. O ser humano sobrevive com pouco contanto que neste pouco nunca falte amor, saúde e coragem para seguir. Todos os dias são de batalhas, uns ganham, outros perdem, o que nos conforta é que mesmo com todas as dificuldades há sempre um oásis no deserto da vida.

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