Na caminhada em direção à praça central da cidade, minha mãe colheu uma pitanga de uma árvore que apareceu pelo caminho. Ao colocar a fruta na boca, ela foi teletransportada para a sua infância. Aqueles segundos mágicos com os olhos fechados a levaram para os seus tempos de criança no interior. Seu semblante expressava todo o encanto daquela viagem súbita às suas lembranças. O aroma e o gosto daquela frutinha despertaram uma recordação que talvez nem lembrasse e que não está registrada em nenhum lugar.
Eu sempre tive fascinação por ficar folheando os álbuns de fotografias da família e olhando as gravações em fitas de videocassete. Aniversários dos primos. Casamentos dos pais e dos tios. Festas dos parentes. Viagens em família. Virava e revirava os arquivos. Me sentia participante daqueles momentos de quando ainda não era nascido ou era bem pequeno. Um costume que tem se perdido. Fotos deixaram de ser reveladas para serem baixadas na nuvem. Vídeos deixaram de ser gravados para ocupar HDs alheios. Eu resisto: converti as fitas de videocassete para DVD, e como esse também já se tornou ultrapassado, precisei comprar um leitor externo para assistir e recorrer às memórias.
Ah, se pudéssemos guardar todos esses momentos em um potinho para lembrarmos sempre que quisermos. Para viajarmos nas lembranças quando a saudade bater. Quem dera desse para colocar em um frasco o perfume daquelas pessoas que amamos. Embalar aquelas gargalhadas gostosas que foram dadas com os amigos. Conservar as sensações inexplicáveis de quando comemoramos as conquistas com quem torce por nós. Armazenar o tempero único da comida da mãe. Engarrafar o cheirinho de casa. Colecionar como figurinhas cada um desses momentos inesquecíveis e que nos fará falta. Sem falar naquelas pessoas tão especiais que queremos conservá-las em um potinho para mantê-las sempre vivas e pertinho da gente.
Querer guardar é também uma forma de pedir bis. De querer viver novamente aquela situação especial. De querer conversar mais uma vez com aquele ente querido que já partiu. De abraçar de novo aquele amigo que mora longe. De repetir aquele beijo na pessoa amada. De vislumbrar mais uma vez aquele pôr do sol e aquela paisagem da última viagem. Ou de voltar ao pomar da infância com direito a muito mais do que pitangueiras.
Diante de tantas bugigangas desnecessárias, as lembranças são as melhores coisas que podemos carregar em nossa jornada. Elas nos tornam quem somos e nos ajudam a perceber o mundo de outra forma. Sabe o que eu quero ter juntado no final de toda a minha vida? Muitas memórias boas e lembranças inesquecíveis. Não conseguirei guardá-las em um potinho, mas posso armazená-las aqui dentro e procurá-las sempre que possível. As memórias são tesouros que merecem um destaque especial nos compartimentos do nosso coração.
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