O menino silencioso
- Gustavo Tamagno Martins
- 27 de dez. de 2024
- 2 min de leitura

Junto com a nota do trabalho avaliativo, a professora devolveu com um feedback que no final me denominava como “menino silencioso”. De início, pensei que eu poderia parecer uma ameaça, por ser uma pessoa mais observadora e de poucas intervenções orais nas aulas. Mas lembrei que isso faz parte da minha essência desde sempre. Quem me conhece há pouco ou em algum momento meu mais extrovertido, fica até incrédulo ao saber que sou uma pessoa mais tímida e quieta. Confesso que já fui pior e procuro melhorar a cada dia.
Eu gosto do silêncio. Com ele, consigo ouvir melhor as batidas do meu coração. Escutar o canto dos pássaros. O barulho do vento balançando as folhas das árvores. E pela lógica, em um mundo cada vez mais barulhento e que trata tudo a gritos, nadamos contra a maré. Quem se permite abaixar o volume do mundo, consegue ouvir melhor o seu interior. Sem falar que o silêncio é a melhor resposta que podemos dar para os idiotas.
Há quem fique ainda mais inquieto com o silêncio. É uma questão de equilíbrio e de saber lidar bem com ele. Não tiro o mérito das gargalhadas com os amigos e das conversas altas com quem amamos, mas o silêncio tem o seu valor. E ficar em silêncio não diz respeito somente à solidão, aquela ausência de pertencimento com o mundo e com os outros, mas à solitude, que reflete o momento a sós em que podemos desenvolver o autoconhecimento e aquietar a nossa mente e coração. Esse silêncio da solitude permite que marquemos encontros com nós mesmos, para bater um papo e refletir melhor o que acontece aqui dentro. E cada um acha a sua melhor forma para isso, seja uma caminhada ou uma corrida, um cafézinho com o seu “eu”, a meditação ou um momento sozinho no quarto.
Recorro ao poeta das miudezas, Manoel de Barros, porque eu também “uso a palavra para compor meus silêncios”. Aliás, foi sobre os poemas desse autor um dos trabalhos para a disciplina da professora que citei anteriormente (uma das pessoas mais sensíveis e poéticas que conheço). Quanto mais silenciosos nos tornamos, mais conseguimos ouvir, observar, apreciar. Quanto mais silenciamos, mais vivemos de forma plena e leve. E sim, com muito orgulho, sou o menino silencioso.
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