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Coluna de Sexta - 26/08/2022: Quando a ficha cai

Foto do escritor: Gustavo Tamagno MartinsGustavo Tamagno Martins

Ilustração: Vecteezy

A gente entra em um estado de êxtase. Parece até que está sonhando. Andando sobre as nuvens. Ficamos anestesiados justamente porque nosso corpo e mente não conseguem processar o que está acontecendo. “Será que daqui a pouco vou acordar na minha cama e tudo não passou de um sonho?”. Fecha os olhos, abre novamente. Continua ali. É realidade. A culminância de vários anos de estudos com direito a toga, barrete e jabor (em nossa língua: a roupa, o chapéu e o “babeiro”). A gente tenta até reagir com naturalidade, mas é uma sensação muito diferenciada.


Uma colega querida, que se tornou minha amiga e me acompanhou durante a faculdade, me lembrou no dia seguinte: “ontem foi um misto de sentimentos. Agora que a ficha cai, estamos formados”. Agora, com canudo e diploma em mãos, lembramos das vezes que nós demos força um para o outro com um “falta pouco!”, “vai dar tudo certo!” e “lá na frente vamos rir disso tudo!”.


Uma mistura de alívio (“ufa, acabou!”) com uma provocação do poema do Carlos Drummond de Andrade (“e agora, José?”). Assim como deveriam, pelo menos uma vez na vida, experimentar viajar de avião (isso que tenho medo de altura), as pessoas também deveriam vivenciar a sensação inexplicável que é passar de formando a formado. Não pelo título, mas pela experiência amortecedora de mais uma missão cumprida. Mais um sonho realizado. Parece quando vamos ao dentista e ele aplica anestesia. Só depois de um tempo que a gente volta a ter o sentido daquela parte da boca. Com a formatura é assim, só depois que a ficha cai que a gente realmente percebe e se emociona por mais uma etapa vencida. E como a pró-reitora destacou em sua fala: “acreditamos que o mundo fica melhor sempre que alguém veste uma toga”.

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