Quando somos crianças, aprendemos que é preciso dividir com os amiguinhos o que temos, seja compartilhando os brinquedos ou mesmo repartindo um pedaço do que estamos comendo. Desde pequenos, antes mesmo de conhecermos os cálculos, aprendemos na prática que a divisão não nos deixa com menos do que o outro. Dividir não nos deixa inferiores. Nos iguala. “Meu coleguinha não tem brinquedo e eu tenho dois. Agora cada um tem um.” Uma pena que, na medida que vamos perdendo a inocência e a pureza características de criança, esquecemos também dos valores de empatia, solidariedade e amor ao próximo.
Quando crescemos, passamos a pensar exclusivamente no nosso próprio umbigo e nos tornamos cada vez mais egoístas. Esquecemos o que nós aprendemos quando menores e constatamos que se dividirmos, ficaremos sempre em desvantagem. “Se eu não repartir com o outro, ficarei com mais.” E além de que o outro torna-se uma ameaça. “Ele não pode ter mais, se tornar maior ou melhor do que eu”.
Esquecemos totalmente que precisamos uns dos outros. Ignoramos a máxima de que “sozinhos vamos mais rápido, mas juntos vamos mais longe”. Quando estendemos a mão, doamos um pouco de nós, mas também ganhamos um pouco do outro, não por moeda de troca, mas em forma de gratidão, de um sorriso sincero, de um abraço apertado, de uma lágrima de emoção. De deitar no travesseiro com a sensação de dever cumprido. E estender a mão vai muito além de contribuições materiais. É doar tempo, oferecer ouvidos atentos e servir de abrigo com um ombro amigo. A mesma mão que aponta e julga pode ser usada para ajudar e acolher. A boca que despreza e ofende pode ser aberta para aconselhar e oferecer palavras de apoio.
E tem mais. Um dos grandes pensadores contemporâneos, Cortella, ensina que há duas coisas na vida que se guardarmos, aí é que as perdemos. Se guardarmos o conhecimento e o afeto para nós mesmos, eles desaparecem. A única forma de mantê-los conosco é repartindo-os. Partilhar sempre enriquece mais a nossa bagagem. Trocar experiências e saberes com os demais nos torna mais sábios do que quem guarda o que sabe apenas para si. Transmitir o que sentimos pelo outro nos torna mais corajosos do que muitos aventureiros. Compartilhar é uma maneira especial de deixarmos um pouco da gente por cada cantinho que passamos. Não precisamos ser reconhecidos por compartilhar energias boas por aí. A satisfação por colaborar nessa jornada e, com nossas partilhas, tentar deixar o mundo melhor já vale muito mais do que qualquer condecoração.
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