Tem uma característica minha que é comum nos ansiosos: pedir desculpa por qualquer coisa. Muito mais do que se desculpar por educação, a nossa preocupação é que o tempo todo a gente esteja incomodando as pessoas. Não queremos ser um peso para ninguém. Morremos de medo de errar e muito mais de que alguém fique chateado conosco por isso. Precisei gravar uma reportagem na casa de uma senhora. Como de costume, fui logo pedindo perdão por estar “invadindo” sua casa, atrapalhando seus afazeres e “roubando” um pouco do seu tempo para a entrevista. Carinhosamente, ela me acalmou e desativou um dos gatilhos da ansiedade: “imagina, fica tranquilo! O que atrapalha é doença”. A resposta daquela mulher sábia, prestes a completar sete décadas, me deixou mais sossegado. Desarmou uma das bombas que a própria ansiedade jogou para dentro.
A minha meta é terminar, uma a uma, com essas bombas internas. O desafio é árduo - e diário - porque, nós ansiosos, bem sabemos que existem gatilhos que do nada nos fazem entrar em crise. A gente pode estar em paz, mas um mínimo gatilho, uma atitude ou alguma situação que nos submeta a encarar medos/traumas/exposições faz a nossa cabeça ficar a mil.
Assuntos mal resolvidos, lugares muito cheios e conversas inacabadas são gatilhos reais que a ansiedade ativa. Sem falar na vergonha de errar em público e na dificuldade em dizer não, justamente para não deixar ninguém chateado. Fora que nós do time dos ansiosos procuramos “controlar” tudo, mesmo sabendo que a gente não consegue dar conta sozinho. Nós nos culpamos por tudo de ruim que acontece no mundo e buscamos prever qualquer coisa que possa dar errado. A gente não planeja só o plano B, mas o plano C, o plano D…
Além do gerenciamento de emoções e acompanhamento psicológico, também precisamos da compreensão de quem nos rodeia. Nós, ansiosos, temos conosco bombas-relógios que podem ser ativadas inesperadamente. Precisamos que entendam que em alguns dias estaremos totalmente inseguros, em outros seremos inconstantes, em alguns ainda ficaremos mais calados e em outros teremos crise de autoestima e medo de perder quem amamos. Por favor, nos entenda! Durante as crises estamos desesperados em desarmar mais uma bomba antes que ela exploda e atinja todos nós.
Comments