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Coluna de Sexta - 13/01/2023: Ansiosos, dirijam-se a este guichê

Foto do escritor: Gustavo Tamagno MartinsGustavo Tamagno Martins

Ilustração: Pascal Campion

No ano passado (que não faz muito tempo), recebi uma crítica nas redes sociais de uma pessoa que sequer conheço. Respirei fundo, agradeci o comentário e tentei não me abalar com aquilo (logo eu, um ansioso). Resultado: me senti bem mal depois daquele dia. Deveria? Não deveria, afinal, precisamos saber receber elogios e críticas. “É do jogo”, dizem. Só que tem um agravante, eu sou do time dos ansiosos. Aquela mensagem ativou dois dos diversos gatilhos da ansiedade aqui dentro do peito: a insegurança e a autocobrança.


Chamei os ansiosos para este guichê pois talvez me entendam com mais facilidade e não pareça bobagem o diagnóstico desses sintomas. Nós já somos inseguros em um nível absurdo. Não nos sentimos bons o suficiente e pensamos sempre que somos um incômodo na vida das pessoas. A gente se cobra o tempo todo. Não pegamos leve com nós mesmos. E quando os outros colocam mais um peso em nossos ombros, desmoronamos.


Nós vivemos com a cabeça no amanhã e, ao mesmo tempo, nos sentimos sempre atrasados. Se marcarmos um compromisso, a “bichana” se arruma e sai antes de nós. Parece que não será possível realizar todos os sonhos que temos em uma vida só. Queremos dar conta de tudo, carregar o mundo nas costas. Criamos listas de coisas para fazer antes de morrer e queremos cumpri-las em apenas um dia. Ficamos pensando em como estaremos daqui alguns anos, mas não sabemos descrever nem como estamos nos sentindo agora.


Como entendi que a ansiedade mora aqui dentro como uma velha inquilina, passei a ressignificá-la. Aprendi a vê-la com um outro olhar. Podemos conviver com ela de forma pacífica. Aos poucos, estou tentando desativar os alarmes internos e me cobrar menos. Estou buscando me consolar e reforçar que a gente não perde o que não é nosso. Estou procurando me abraçar mais. A ansiedade pode ser uma grande conselheira. Ela vai nos lembrar que quanto menos expectativas, menos frustrações também. Ela vai nos alertar que podemos nos jogar com tudo, mas talvez a gente encontre mares rasos pelo caminho. Ela vai nos ensinar ainda que devemos ser leves, mas não vazios.

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