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Coluna de Sexta - 07/10/2022: As consequências de amar

Foto do escritor: Gustavo Tamagno MartinsGustavo Tamagno Martins


Gosto de estacionar em uma vaga que do para-brisa posso vislumbrar uma árvore com flores belíssimas, mais à frente, na calçada. Só que há uma consequência, depois que volto para pegar o carro e ir embora, tem pétalas e folhas caídas por todo o carro. Há quem se incomode a ponto de nunca mais deixar o carro ali. Sempre quando está disponível, volto a colocá-lo lá. Por uns minutos, fico apreciando a beleza daquelas flores. Nem sequer sei o nome, por mais comum que possam ser. Mas de uma coisa eu já sei: que o preço a pagar pela contemplação daquela beleza é ter pétalas pelo carro todo. E tudo bem.


Lembrei da fábula do porco-espinho. Contam que, há séculos, durante uma era glacial, os animais não aguentavam o frio intenso e morriam. Então, uma manada de porcos-espinhos decidiu se juntar e assim se mantinham aquecidos e resistiam ao frio. Com o passar do tempo, eles começaram a se ferir e ferir os demais com os espinhos dos seus corpos, e com as dores das espinhadas, decidiram se afastar. Só que aí voltaram a morrer congelados e uma escolha precisou ser feita: aceitar os espinhos dos companheiros ou morrer de frio. Tiveram que aprender na marra a amar e a respeitar o outro, para o bem de todos.


Toda relação humana é assim. O amor é assim (ou pelo menos, deveria ser). É sobre saber aceitar os prós e os contras. É sobre respeitar as qualidades e os defeitos. Domesticar um pato requer a compreensão de que eles defecam de minuto a minuto. Cultivar rosas faz com que nos arriscamos a espetar os dedos com os espinhos. Querer ver o arco-íris nos exige ter paciência para esperar a chuva passar. E estacionar embaixo de uma planta florescida, nos faz aceitar que o carro estará cheio de pétalas e folhas, e esse é o preço por apreciar a beleza.


Ninguém jamais vai ser totalmente bom ou perfeito. Muito menos igual a gente. Precisamos entender e respeitar isso. É necessário compreender os gostos, os sentimentos e aprender a conviver com as diferenças do outro. E mais do que isso, que aprendamos a admirar as suas qualidades. O contato com as pessoas pode nos causar algumas feridas, mas o calor humano dos ajuntamentos compensa. Juntos somos mais fortes!

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