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A tempestade vai passar

Foto do escritor: Gustavo Tamagno MartinsGustavo Tamagno Martins

ILUSTRAÇÃO: Daniel Pxeira

Pensei muito se iria escrever sobre isso. Não tem como não falar sobre a deplorável tragédia que atinge o Rio Grande do Sul. Vou falar o quê? O que falta falar? Está todo mundo comentando e escrevendo sobre o assunto, mas ele não pode passar batido. Aproveito para reverenciar aqui a todos que estão na linha de frente, profissionais ou voluntários, auxiliando nos resgates, nos acolhimentos ou na organização e distribuição de doações. Estão mostrando que o povo unido, de mãos dadas, pode muito. Parabenizo aos colegas jornalistas que estão sendo porta-vozes dessa calamidade e grandes guerreiros no combate à desinformação. Só evidenciam a importância social e histórica da nossa profissão tão criticada e desvalorizada.


E se você está esperando eu trazer dados, pode desistir desse texto e ir direto ao site do Governo do Estado. Esse é um desastre imensurável. Dá um aperto no coração a cada notícia que lemos. Rasga o peito a cada número de vidas perdidas e de desabrigados que se atualizam. Cada pessoa procura auxiliar da sua forma, doando mantimentos, o seu tempo ou sua oração. Tudo conta por um estado devastado. Toda energia positiva é válida para reerguer esse povo forte, aguerrido e bravo. Por isso, vou focar nas coisas boas, para disseminar a esperança por dias melhores e dar forças para passarmos por mais essa. De tristezas a internet já está cheia.


Aquece o coração a inundação de solidariedade que também tomou conta do estado. Ajuda de todo lado, de gente como a gente e de pessoas públicas que deixaram seu modo reservado para ajudar nos salvamentos ou mesmo para arrecadar fundos e donativos - só o humorista Badin conseguiu mais de 60 milhões de reais. Até o personagem Cascão, avesso ao banho, entrou na água para ajudar as vítimas das enchentes. E o cavalo caramelo que estava ilhado em telhado de Canoas, se tornou símbolo da resistência em meio aos alagamentos e foi resgatado são e salvo (ufa!), assim como muitos outros animais. Toda vida importa e o que mais importa são as vidas.


No momento é preciso ter esperança. Do verbo esperançar mesmo, como diz o Cortella. Porque tem gente que tem esperança do verbo “esperar” e essa é pura espera. Sim, a tempestade vai passar e poderemos seguir sonhando. “E o céu / Pode até tá cinza / Eu sei que o sol vai voltar / Pra iluminar nossos dias! / Eu sei / A tempestade vai passar / Peço a Deus pra me guiar / E iluminar nossos dias!”, já diz a nova canção do Alok e do Zeeba lançada dias atrás (vale a pena ouvir). Recorro ainda à epígrafe do meu terceiro livro, citação da também gaúcha Carolina Meyer Silvestre na sua obra Língua-mãe, que nos dá um alento: “Andávamos tão invernos, que qualquer outono nos fazia acreditar não existir primaveras. Mas, ouvimos, cá dentro, como uma brisa despretensiosa: Vai passar! Vocês verão”.

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