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A nossa incompletude

Foto do escritor: Gustavo Tamagno MartinsGustavo Tamagno Martins

Ilustração: Dusan Djukaric

O poeta Manoel de Barros alegou que a maior riqueza do homem é a sua incompletude. Talvez, se formos analisar, não seja o fato de sermos incompletos que nos torna grandes, mas sim a compreensão de que sempre nos falta alguma coisa. Essa inquietude que nos coloca em movimento e não nos deixa estagnar. Essa insatisfação que não nos acomoda diante de tantas injustiças e barbáries que acontecem mundo afora. Esse discernimento de que não sabemos tudo nos faz buscar ainda mais conhecimento e sabedoria. Nunca estamos prontos. Estamos em constante construção. Passamos por reformas periódicas.


Infelizmente ainda encontramos muitas pessoas ignorantes por aí. Seres incompletos, como nós, que acham que já sabem tudo e querem mostrar isso da pior forma: com estupidez. A grande vontade que nos dá é de falar um mero recado: “recolha-se à sua insignificância”. Ou seja, reconheça o quanto você pode aprender ainda. Aprendi com uma amiga, professora aposentada e escritora, como me autodeclarar um ser incompleto: “sou um eterno aprendiz”. Tenho tanto a aprender e mesmo assim, não saberei quase nada. O mesmo poeta, que cito no início desta crônica, também resume o meu sentimento: “tenho o privilégio de não saber quase tudo. E isso explica o resto."


Com o tempo, nós aprendemos que não vale a pena discutir com pessoas ignorantes. O silêncio nos torna sábios diante de tanta asneira que precisamos ouvir. Eles sempre saem perdendo, porque privam-se de dois dos maiores prazeres da vida: aprender e evoluir. E só conseguimos evoluir quando percebemos que podemos ser melhores para nós mesmos e para todos os que nos rodeiam. Uma frase do grande Ariano Suassuna sintetiza o que penso: “como sou pouco e sei pouco, faço o pouco que me cabe me doando por inteiro." Ao percebermos a nossa incompletude, já damos um passo à frente de quem prefere esfregar na nossa cara o pouco que sabe.

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